terça-feira, 29 de março de 2011

Lembrando...

...que o brasileiro [diz-se] é leve, tem índole pacífica. Ele sempre está chegando.
(Na verdade, trata-se de perigoso eufemismo psicossocial, a esconder a realidade dura, mas realidade: o brasileiro, de ordinário, é acomodado e dado aos jeitinhos, o jeitinho brasileiro, legatário da tipologia de exploração que foi sua colonização.)
Gostosa a fala lusitana, sem dúvida. O seu tempero, todo seu, recheado de inflexões e musicalidades diferentes, meio estranhas, meio apenas... Ah! Nota especial para o seu quase fleumático infinitivo. Sim, pois o português é mais decidido: ele está a chegar. Isso é decisão ibérica e ponto. E pronto!
O brasileiro, não. Ele está chegando, ele vai e vem chegando. E, quando chega, ele chega chegando! Simplicidade meio displicente às vezes, absolutamente ele. Também ela. Nem se diga que foi esquecida, sequer obnubilada. Ela, a mulher brasileira, definitivamente chega a chegar chegando! Única, de ordinário um fremoso violão, ela é inigualável! Isso, só para falar na entrada... Porque, entrada, é soberana e, gerundiamente, vai reinando. Pagode com broa, um espetáculo!

"Lembrando... que hoje à noite tem a peça de teatro tal ou o filme qual..."

Só pra lembrar. Mas, a conexão é imediata e se faz no modo gerúndio, claro. Senão, perde o pique, desarranjam as ideias, não dá.

O infinitivo que me perdoe, mas gerúndio é essencial. Sem ele, a vida fica muito monótona, digital. O gerúndio revela a sua continuidade, num contraste analógico que, no entanto, não combate o rival, antes o modera, realça, valoriza-o até. Assim feito — melhor, assim fazendo ... — ele vai ficando... Olha o gerúndio aí, minha gente! Parece até grito de carnaval. É, parece... E ele, matuto, espiando.

O matuto não olha, espia. [...] E, se der brecha, continua ispianu, iscuitanu...

Gerundiamente. A perfeita conexão.